esses dias a minha doguinha adoeceu, então eu e minha mãe levamos ela numa clínica veterinária para fazer alguns exames. minha mãe, como boa psicóloga, logo começou a fazer várias perguntas e demonstrar interesse pela atuação da veterinária, que diga-se de passagem, foi uma excelente profissional. quem conhece a Aurora sabe que ela não para quieta, mas não é que a vet conseguiu fazer ela ficar tranquila até pra tirar sangue?
conversa vai, conversa vem, a dra. perguntou o que fazíamos da vida. até que respondi: sou nutricionista. NA MESMA HORA vi que ela ficou tensa e murchou a barriga e não falou mais nada. como boa filha de psicóloga que sou, percebi e logo completei: “mas minha abordagem é diferente, gosto de atender quem não gosta de ir na nutricionista”.
de repente, ela relaxou, riu e falou: “já estava tensa pensando que você estava julgando o tamanho da minha barriga”. é sério gente. nessa hora eu entendi (um pouco mais) o quanto os profissionais precisam melhorar e o quanto estou no caminho certo, porque a última coisa que eu quero é ser esse tipo de desconforto na vida das pessoas.
“você é a minha última tentativa”
já perdi as contas de quantas vezes ouvi isso de pacientes.
mulher, por volta dos 30 anos, sobrepeso. já fez inúmeras dietas ao longo da vida. já tentou tratamentos medicamentosos para perda de peso também, mas sem sucesso. já desistiu de ir na nutricionista porque acha que vai levar bronca e sabe o planejamento cor e salteado. começa o dia fazendo tudo “certinho”, mas vai chegando perto do horário do jantar e acaba atacando a geladeira toda. acredita ser viciada em doces e costuma pensar em comida o dia todo. acredita que ganha peso só de sentir cheiro da comida. segunda-feira é um dia de fé e esperança de que “agora vai”. domingo, dia de arrependimento e por volta de quarta-feira, já não aguenta mais. se aguentar até sexta-feira, a recompensa é um “dia do lixo” no sábado, afinal, seguiu a dieta certinha durante a semana. no domingo, fica mergulhada na culpa e frustração por ter exagerado no dia anterior e pensa: “já deu tudo errado mesmo, vou aproveitar só mais hoje e amanhã volto pra linha”. quando perde peso, comemora, mas a comemoração é tão curta quanto o tempo que consegue se manter no peso perdido. over and over again.
- se essa não é a SUA história, tenho certeza que você se lembrou de alguém. pois bem, isso é o que acontece com pelo menos 80% das minhas pacientes.
é desafiador é trabalhar com pessoas mergulhadas na sensação de “já tentei de tudo” e ao mesmo tempo “não tenho disciplina o suficiente…
minha pergunta pra você que se sente assim é: será mesmo que uma pessoa que passou, sei lá, 15 anos da própria vida (ou mais?) tentando, falhando e recomeçando, não é disciplinada?
e digo mais: precisamos parar de pensar em novas soluções e começar a entender os motivos pelas tentativas anteriores não terem dado certo. ah, e o que é “dar certo” em um tratamento no final das contas?
“se sentir fome, coma duas castanhas”
ninguém. aguenta. mais.
p.s.: esse título não é sobre castanhas. é sério, está na hora de mudar de abordagem.
atualmente é muito difícil alguém não saber nada sobre alimentação e nutrição. qualquer pesquisa básica no Google você já consegue muitas informações. nas redes sociais somos bombardeados o DIA TODO com inúmeras informações, sejam elas verdadeiras ou não. aliás, sabia que a nova geração prefere fazer as suas pesquisas no Tiktok, não no Google?
parece que todo mundo já sabe o que fazer, mas ninguém SABE o que fazer. e os dados de saúde só pioram. o que será que estamos fazendo de errado?
“é que as pessoas não fazem dieta”. amore, deixa eu te contar um segredo… até o chat GPT consegue calcular uma pra você. então esse não é o real problema.
o excesso de informações sobre nutrição pode acabar gerando dois sentimentos negativos: dúvida sobre o que é bom ou ruim na alimentação e medo de comida.
dicotomia alimentar
salada não é só bom e chocolate não é só ruim. não existe só 8 ou 80.
o primeiro passo para melhorar a qualidade da alimentação é parar de dicotomizar os alimentos, ou seja, esqueça tudo o que você sabe sobre nutrientes e comece a enxergar contextos, quantidades e frequência.
é claro que os nutrientes são importantes, gente, não sou uma nutricionista lunática.
vamos lá?
responda essa pergunta: bolo de chocolate é saudável?
se você respondeu que NÃO, continue aqui. se você respondeu DEPENDE… estamos no caminho.
concorda comigo que comer bolo de chocolate num aniversário é diferente de comer bolo escondida e de pé de frente da geladeira? o bolo continua sendo o mesmo… da mesma forma que levar a sua marmita de salada num aniversário não me parece ser algo saudável, ainda que os vegetais sejam ricos em nutrientes.
ainda sobre o bolo de chocolate: você come todos os dias ou esporadicamente? quando come, é um bolo inteiro ou uma/duas fatias?
portanto, como comemos é tão importante quanto o que comemos. o problema é que muitos profissionais estão se esquecendo disso.
medo, amor e ódio pela comida
como se não bastassem as inúmeras dúvidas sobre o que é bom ou ruim na alimentação, esse excesso de informações e regras alimentares só tem gerado medo nas pessoas.
é um pouco obvio relacionar medo de comida com a manifestação de algum transtorno alimentar, mas esse sentimento também pode atrapalhar muito aquelas pessoas que só querem mudar seus hábitos de saúde.
uma hora ovo faz bem, outra faz mal. depois a culpa é do pão. de repente é o leite que te inflama e causa todos os problemas. agora eu digo: se nada pode e tudo faz mal, mas comer é necessário, não é meio obvio que as pessoas vão acabar escolhendo o mais recompensador?
digo, repito e menciono a news do elefante cor de rosa: a restrição alimentar por medo de comer não vai resolver os seus problemas com a comida.
uma comida não é saudável somente pela sua composição nutricional. outros fatores como contextos, frequência e quantidades também devem sempre ser considerados. num mundo de excessos de informações sobre alimentação e saúde, precisamos voltar para o básico e rever alguns conceitos, porque isso não está funcionando. se você se sente perdida(o) e não sabe o que fazer, procure profissionais que vão tentar facilitar a sua vida, não te encher de mais regras, proibições, medos e preocupações.
Always helping us to get a better relationship with something essential: THE FOOD!
I loved, since THE TILTLE!❤️